“O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO”

Em 1930 Freud publica o artigo intitulado O Mal-Estar na Civilização e ali apresenta suas conclusões sobre o fundamento da condição humana: ao aceder à palavra e à vida comunitária, o homem renuncia a uma parte importante de sua origem animal. Renúncia que se registra como perda e se mantem como queixa enquanto dano e reivindicação enquanto algo a ser recompensado. O ano da publicação é época histórica entre 2 grandes guerras mundiais, sendo que a primeira já deixara a marca indelével de seus efeitos e a segunda já se anunciava nos meandros das relações sociais e políticas pela Europa. Ao longo de sua investigação e obras escritas, já a partir de 1885, Freud vinha anunciando e demonstrando que a Psicopatologia é inerente à condição humana, não se limitando aos casos de adoecimento severo, como pretendia, e ainda pretende, a Psiquiatria. Investigação sustentada pela escuta de seus pacientes e de si próprio, interrogando sistematicamente seus achados. 

 

VERÔNICA DE FÁTIMA SALVALAGGIO – PR

  • Graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (1984);
  • Especialização em Origens Filosóficas e Científicas da Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (1987);
  • Mestrado em Sociologia pelo Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (2018).
  • Atuo em Psicologia Clínica desde 1985.
  • Nos anos 90 realizei atendimento psicológico em Ambulatórios com convênio INAMPS (como era denominado na época) e iniciei docência no Ensino Superior junto à FESP, Faculdades Espírita, Tuiuti e Positivo.
  • Entre 2008 e 2014 realizei Supervisão Clínico-Institucional mediante Programa QUALI-CAPS, do Ministério da Saúde.
  • Desde o início dos anos 2000, desenvolvo Coordenação Acadêmico-Pedagógica em cursos de Especialização na área da Saúde Mental e Psicopedagogia;
  • ocupo a função de Supervisão Educacional em instituição de Pós-Graduação; ministro aulas em cursos de Especialização, presenciais e à distância, nas áreas da Saúde e da Educação, com ênfase em Psicologia Geral, Social, da Educação, do Desenvolvimento e da Aprendizagem;
  • realizo Orientação de Trabalhos de Conclusão em Cursos de Especialização.

Publico-alvo:

Todos aqueles que se interessam pela Psicanálise, mas que em geral são profissionais da área da Psicologia, Medicina, Direito e Filosofia. 

Data e Carga Horária:

01/06/2019 | 08 horas | 8h:30 às 17h:30

Conteúdo Programático:

  • Condição humana fundamental: associação entre história da civilização e história das guerras. 
  • – Ideal de Felicidade e atual projeto social de Bem-Estar e Saúde Mental: utopia enganadora, até porque a felicidade é algo essencialmente subjetivo.  
  • – Civilização: passagem da natureza à cultura, que cobra seu preço e cota de sacrifício. Se esta renúncia não for economicamente compensada, da vasão à hostilidade e a sérios distúrbios. 
  • Subversão da noção de Psicopatologia: no aquém dos severos casos de adoecimento severo, como pretende a Psiquiatria, que adota padrões normativos, visando medidas higienistas e segregacionistas. Está em questão a “fuga para a enfermidade neurótica” (1930, p 104). 
  • Constituição Subjetiva: fundação do sujeito do inconsciente, alcançada por meio de “Construções Em Análise” (título de um trabalho de Freud, de 1937). 
  • Dualidade Pulsional: Eros e Thanatos – pulsões de vida e de morte. 
  • – Sentimento de Culpa e Necessidade de Castigo: a divisão psíquica; renúncia pulsional; supereu e ideal do eu; angústia e sintoma.  
  • – Clínica freudiana: prática da escuta de pacientes, ancorada na escuta e investigação de si próprio. 
  • Citações (em “O Mal-Estar na Civilização”): 
    • …na vida mental, nada do que uma vez se formou pode perecer – … tudo é … preservado e em circunstâncias apropriadas… pode ser trazido de novo à luz ” (p. 87); 
    • … o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer. Esse princípio domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início” (p. 94); 
    • … nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição. Já a infelicidade é muito menos difícil de experimentar” (p. 95); 
    • A felicidade é essencialmente algo subjetivo” (p. 108); 
    • A palavra ‘civilização’ descreve a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois instintos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos” (p. 109);
    • Reconhecemos como culturais todas as atividades e recursos úteis aos homens, por lhes tornarem a terra proveitosa, por protegerem-nos contra a violência das forças da natureza, etc.” (p. 109);
    • A vida humana em comum só se torna possível quando se reúne uma maioria mais forte do que qualquer indivíduo isolado e que permanece unida contra todos os indivíduos isolados. O poder dessa comunidade é então estabelecido como ‘direito’, em oposição ao poder do indivíduo, condenado como ‘força bruta’. A substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização. Sua essência reside no fato de os membros da comunidade se restringirem em suas possibilidades de satisfação, ao passo que o indivíduo desconhece tais restrições. A primeira exigência da civilização, portanto, é a justiça, ou seja, a garantia de que uma lei, uma vez criada, não será violada em favor de um indivíduo” (p. 115-116);
    • A liberdade do indivíduo não constitui um dom da civilização. Ela foi maior antes da existência de qualquer civilização. […] O desenvolvimento da civilização impõe restrições a ela, e a justiça exige que ninguém fuja a essas restrições. O que se faz sentir numa comunidade humana como desejo de liberdade pode ser sua revolta contra alguma injustiça existente, e desse modo esse desejo pode mostrar-se favorável a um maior desenvolvimento da civilização; pode permanecer compatível com a civilização. Entretanto, pode também originar-se dos remanescentes de sua personalidade original, que ainda não se acha domada pela civilização, e assim nela tornar-se a base da hostilidade à civilização. O impulso de liberdade, portanto, é dirigido contra formas e exigências específicas da civilização ou contra a civilização em geral. […] Grande parte das lutas da humanidade centralizam-se em torno da tarefa única de encontrar uma acomodação conveniente – isto é, uma acomodação que traga felicidade – entre essa reivindicação do indivíduo e as reivindicações culturais do grupo, e um dos problemas que incide sobre o destino da humanidade é o de saber se tal acomodação pode ser alcançada por meio de alguma forma específica de civilização ou se esse conflito é irreconciliável” (p. 116-117);
    • …o mais  importante de tudo: é impossível desprezar o ponto até o qual a civilização é construída sobre uma renúncia ao instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a não-satisfação (pela opressão, repressão, ou algum outro meio?) de instintos poderosos. Essa ‘frustração cultural’ domina o grande campo dos relacionamentos sociais entre os seres humanos. […] é a causa da hostilidade contra a qual todas as civilizações têm de lutar. Também ela fará exigências severas à nossa obra científica Não é fácil entender como pode ser possível privar de satisfação um instinto. Não se faz isso impunemente. Se a perda não for economicamente compensada, pode-se ficar certo de que sérios distúrbios decorrerão disso ” (p. 118);
    • A tendência por parte da civilização em restringir a vida sexual não é menos clara do que sua outra tendência em ampliar a unidade cultural” (p. 124); 
    • Uma comunidade cultural acha-se, do ponto de vista psicológico, perfeitamente justificada em começar por proscrever as manifestações da vida sexual das crianças, pois não haveria perspectiva de submeter os apetites sexuais dos adultos, se os fundamentos para isso não tivessem sido lançados na infância. Contudo, uma comunidade desse tipo de modo algum pode ser justificada se vai até o ponto de realmente repudiar essas manifestações facilmente demonstráveis e […] notáveis” (p. 125); 
    • …os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade”;  ‘O homem é o lobo do homem’ ” (p. 133);
    • Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à sexualidade do homem, mas também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz nessa civilização. Na realidade, o homem primitivo se achava em situação melhor, sem conhecer restrições de instinto. Em contrapartida, suas perspectivas de desfrutar dessa felicidade, por qualquer período de tempo, eram muito tênues. O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança. Não devemos esquecer, contudo, que na família primeva apenas o chefe desfrutava da liberdade instintiva; o resto vivia em opressão servil. Naquele período primitivo da civilização, o contraste entre uma minoria que gozava das vantagens da civilização e uma minoria privada dessas vantagens era, portanto, levada a seus extremos” (p. 137); 
    • …o significado da civilização […] deve representar a luta entre Eros e a Morte, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como ela se elabora na espécie humana. Nessa luta consiste, essencialmente, toda a vida, e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da espécie humana pela vida. E é essa batalha de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu ” (p. 145); 
    • …minha intenção [é a] de representar o sentimento de culpa como o mais importante problema no desenvolvimento da civilização, e de demonstrar que o preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa” (p. 158); 
    • …o sentimento de culpa nada mais é do que uma variedade topográfica da ansiedade; a ansiedade está sempre presente [] por trás de todo sintoma (p. 159);
    • …os juízos de valor do homem acompanham diretamente os seus desejos de felicidade e, por conseguinte, constituem uma tentativa de apoiar com argumentos as suas ilusões” (1930, p. 170);
    • A questão fatídica para a espécie humana parece-me ser saber se, e até que ponto, seu desenvolvimento cultura conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal causada pelo instinto humano da agressão e autopunião” (p. 170). 

Investimento:

 

Local do Curso:

Unidade Faculdade Inspirar Curitiba/PR

R. Inácio Lustosa, 792 – São Francisco, Curitiba – PR, 80510-000

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